G1, 31/01/2017 - Por Lia Salgado
Toda vez que tomamos a decisão de investir num projeto, de um jeito ou de outro impactamos também a vida de pessoas ao nosso redor. Em consequência, elas reagem e interferem – ou tentam – no que estamos fazendo.
Um fator a ser considerado é que quem está fora da situação nem sempre (ou quase nunca) conhece a fundo a dinâmica interna do processo. E, por conta disso, pode ter uma visão irreal do que estamos fazendo e dos resultados que estamos obtendo.
Há ainda outras pressões às quais a gente é submetida durante a trajetória de preparação até ser aprovada no concurso desejado. É praticamente inevitável.
Sim, as pressões são inevitáveis. Mas a nossa reação a elas pode variar, e muito. Portanto, melhor escolher formas menos destrutivas de lidar com os fatores que tumultuam o caminho e afetam a nossa autoconfiança.
Família
Pais, cônjuges, às vezes, filhos, comumente têm a impressão de que não estamos nos esforçando de forma suficiente. “Como assim, você tem uma pausa no meio da manhã? E a noite é livre e você sai para caminhar? Não estuda no domingo? Você não está levando o projeto a sério.”
O outro lado da mesma moeda é a queixa de que você não se dedica mais à família, de que não gosta mais deles e outras considerações do gênero.
A consequência dessa ansiedade e desconhecimento, depois de algum tempo, levará a questionamentos do tipo: “Você ainda não foi aprovado/a? Será que não é melhor desistir e procurar um emprego?”
Acontece que quem vive com você está sofrendo a sua ausência e deseja que isso acabe o quanto antes. Assim, essas pessoas têm uma avaliação comprometida somente com a necessidade de ter você de volta ao convívio. Claro, se possível, aprovado/a - desde que seja logo.
O que fazer
Seguir estudando. Tente não absorver os comentários como críticas – são fruto da soma da insatisfação pela sua distância com a vontade de que tudo volte a ser como antes, o mais rapidamente possível.
Assim, se possível, explique o funcionamento do projeto e dê exemplos de pessoas que estudaram e foram aprovadas, mesmo depois de anos, e tiveram a vida transformada. Mostre a lógica do seu quadro de horários de estudo para que as coisas fiquem mais claras. Reserve, no momento de lazer, algum tempo para a família. Mas seja firme no projeto. Resumindo, não alimente conflitos, não se deixe abater (o projeto é seu), seja claro, e siga.
Amigos
O comentário mais comum entre os amigos é: “Você não vê que concurso é jogo de cartas marcadas? Vai perder seu tempo com isso?”
Há um grupo que usa uma abordagem diferente: “Você nunca tem tempo. Está deixando de viver. A vida não espera.”
Bem, não podemos esperar que todos compreendam o caminho que escolhemos. E muita gente opta pelo julgamento fácil, em vez de se informar sobre os fatos.
O que fazer
Caberá a você evitar ser contaminado por esse tipo de pensamento superficial e imediatista. Se tiver paciência – e se o amigo/a valer a pena – explique que atualmente não é assim e que os concursos têm critérios cada vez mais rigorosos de segurança e são fiscalizados: pela banca examinadora, pelo órgão contratante, pelos candidatos e pela sociedade. Que alguma fraude pode, sim, acontecer, como em qualquer outro setor que envolva o ser humano. Mas que é exceção, tratada como crime, denunciada, apurada e punida como tal. Que conhecemos milhares de pessoas comuns que estudaram, foram reprovadas algumas vezes e depois de um tempo conseguiram conquistar a vaga. Que essa é uma forma democrática de se conquistar um bom emprego e está acessível a todos os que se dispuserem a enfrentar o desafio de se preparar adequadamente.
Quanto a “aproveitar a vida”, há momentos em que é necessário abrir mão de algumas coisas para conseguir algo maior adiante. E não estamos falando somente de concursos públicos. Quando você estiver com a situação financeira organizada e com mais liberdade de escolhas, talvez esses amigos repensem a visão equivocada que tinham.