G1, 02/08/2016 - Por Lia Salgado
Eu entendo que quando a gente inicia um projeto está assumindo a responsabilidade por ele e não deve depender que as pessoas próximas estejam obrigatoriamente envolvidas.
Claro que quando se pode contar com o apoio de familiares e amigos é excelente, é o melhor dos mundos. Mas essa não pode ser uma condição. O projeto é pessoal e o salário também será.
Uma boa iniciativa é ter uma conversa honesta sobre os planos de fazer concurso público, e mostrar de que forma a vida será transformada depois da aprovação e as novas perspectivas que vão se surgir.
Se falar com os pais, vale apostar na construção da independência financeira definitiva, mesmo que demore um pouco; com cônjuges, a proposta de maior autonomia e melhoria no orçamento familiar; com filhos, apontar para a construção de uma nova condição financeira para todos, exemplificando concretamente, de acordo com a idade de cada um.
No meu caso, eu falava para os meus filhos que a gente ia poder passear mais, viajar, ter mais tempo juntos. Para os pequenos, dizia que poderíamos comprar mais brinquedos. Para os adolescentes, o sonho era ter um computador só para eles (compartilhávamos um para toda a família).
É necessário alertar para as mudanças que vão acontecer durante o período de preparação, sem criar falsas expectativas de tempo de aprovação – isso também minimiza as frustrações.
Organizar a rotina de horários, e informar quais são os horários de estudo e quais são os horários livres, ajuda a reduzir a ansiedade das pessoas próximas, porque saberão quais serão os momentos de convivência, mesmo que sejam mais restritos. Também funciona com amigos, para que não interrompam os períodos de estudo e não fiquem cobrando atenção.
Como isolar as cobranças das pessoas por uma breve aprovação?
Mas, mesmo com todos os cuidados, é importante que o candidato compreenda que quem está fora do processo tem dificuldade de entender o funcionamento dos concursos públicos.
As pessoas imaginam – e muitos candidatos também, quando começam – que a aprovação virá em poucos meses e que qualquer coisa diferente disso significa que algo está errado e a pessoa talvez não passe nunca. Talvez seja melhor desistir e procurar um emprego na iniciativa privada.
Além disso, sentem a sua falta e não sabem quando você voltará a ter tempo.
Na véspera da minha última prova para o concurso do ISS-Rio, onde trabalho, meu filho mais velho perguntou: mãe, e se você não passar nesse concurso?
Eu senti como um soco na boca do estômago, como se ele estivesse sendo cruel. Mas entendi que ele estava querendo saber quanto tempo mais teria de ficar naquela situação, adolescente e ajudando a tomar conta dos irmãos.
Então eu respondi: se eu não passar vou continuar a estudar. E eu passei. E a vida da gente mudou.
Portanto, independentemente da postura dos outros, seja firme, sem ser agressivo, evite ficar sentido com cobranças ou quando não receber o apoio desejado. Acredite no projeto e siga em frente até a vitória.